22 dezembro 2008

NATAL, E NÃO DEZEMBRO (David Mourão-Ferreira)


Nossa Senhora e o Menino, de Rafael

NATAL, E NÃO DEZEMBRO

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...

Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...

Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

15 dezembro 2008

NOVIDADES BIBLIOGRÁFICAS EM LÍNGUA ESPANHOLA


LEITURAS DE ESPANHOL - BREVES NARRATIVAS
con actividades de pré-leitura e exploração didáctica

Nível elementar 1

José Luis O. Ariza, Amnesia
Pablo Daniel G. Cremona, Historia de una Distancia

Nível elementar 2

Eva Garcia F. Puppo, Manuela
Ana Isabel B. Picado, El Ascensor

Nível intermédio 1

Jorge G. Morcillo, Azahar

Nível intermédio 2

Isabel M. Adrián, La Biblioteca

Nível elementar 1 - após de 50/60 horas de aulas
Nível elementar 2 - a partir de 100/120 de horas de aulas
Nível intermédio 1 - a partir de 160/180 horas de aulas
Nível intermédio 2 - a partir de 220/240 horas de aulas

11 dezembro 2008

SESSENTA ANOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM



A BE/CRE assinalou os sessenta anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos com uma palestra a cargo da professora Lia Ribeiro, do grupo de História, que, generosamente e com enorme competência e entusiasmo, se prontificou a dinamizar o evento. Estiveram presentes as duas turmas do 11º ano do Curso de Técnico de Turismo, para além de vários docentes.
Analisada a ficha de avaliação que os presentes foram convidados a preencher no final, verificou-se que o evento teve "nota" altamente positiva. A prolongada salva de palmas recebida no final pela profesora palestrante foi absolutamente eloquente.

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)

09 dezembro 2008

Dia 10 de Dezembro - Dia dos Direitos Humanos


CARTA A MEUS FILHOS SOBRE OS FUZILAMENTOS DE GOYA
Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem sequer seja isto
o que vos interessa para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
Amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse com suma piedade e sem efusão de sangue.
Por serem fiéis a um Deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou as suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
o caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém,
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa – essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga –
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Será ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruiram, aquele gesto
de amor, que fariam “amanhã”.
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é só nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena – Metamorfoses, 1963

Alçada Baptista (1927-2008)

Morreu ontem António Alçada Baptista, um intelectual que atravassou a segunda metade do século XX com uma extrema lucidez, um cidadão com raro espírito de intervenção cívica, um escritor de afectos, um homem afectuoso.

02 dezembro 2008

Torre de Babel, de Brueghel o Velho

O início da extraordinária diversidade linguística da humanidade é apresentada na Bíblia (logo no primeiro livro do Antigo Testamento, o Génesis) através do celebérrimo episódio da Torre de Babel, que foi tratado por muitos pintores ocidentais. Aliás, os episódios e as personagens bíblicas - quer as do Antigo, quer as do Novo Testamento - constituem, até ao século XX, a grande fonte da pintura ocidental.
Em cima, a Torre de Babel de Brueghel, o Velho.