28 setembro 2011

O POEMA DA SEMANA

No Teu Poema

No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida.

No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta, uma varanda para o Mundo.

Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço do corpo que adormece em cama fria.

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva, a luta de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.

No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano.

Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço do corpo que adormece em cama fria.

Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
O cais da nova nau das descobertas.

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera... do futuro.


Este poema de José Luís Tinoco e com música do mesmo autor, foi uma das canções participantes no XIII Festival RTP da canção de 1976, intrepretada por Carlos do Carmo, ficando em segundo lugar. Apesar de não ter vencido este Festival RTP, este poema e esta música tornaram-se muito populates.
Prova disso mesmo, são as mais variadas versões que já foram feitas desta canção. Para além da versão original de Carlos do Carmo, ficaram célebres as várias intrepertações de Simone de Oliveira e mais recentemente as versões de Dulce Pontes, Malfada Arnauth ou Paula Oliveira.
Este poema, continua a ser frequentemente declamado e intrepretado, tornando-se um verdadeiro clássico.

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José Luís Tinoco (Leiria, 27 de dezembro de 1932) é um arquitecto, pintor, ilustrador, cartoonista, músico e letrista português.
Nascido numa família onde se dava grande relevância às artes plásticas, foi com naturalidade que ingressou na Escola de Belas-Artes do Porto para cursar arquitectura, mas acabou por concluir a licenciatura em Lisboa, na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Na década de 50 foi elemento activo do movimento de renovação da arquitectura portuguesa, abrindo o seu próprio ateliê.
Ao mesmo tempo, desenvolvia actividades nas suas outras paixões: a música e as artes gráficas. Assim, dedicou-se à pintura e à ilustração de capas de livros e discos, bem como a uma colaboração assídua com os Correios de Portugal para quem assinou a ilustração de várias dezenas de selos. Como pintor expôs, pela primeira vez, em 1956, tendo desde aí participado em numerosas exposições individuais e colectivas.
Realizou um filme de animação a partir da obra O que diz Molero de Dinis Machado.
Para o grande público, José Luís Tinoco é particularmente conhecido como autor da música e, algumas vezes, também da letra de canções que obtiveram grande sucesso, tais como "O amarelo da Carris", "Um homem na cidade" e "No teu poema", todas cantadas por Carlos do Carmo. Em 1975 escreveu a letra e a música de "Madrugada", interpretada por Duarte Mendes, que representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção desse ano. ( adaptado de Wikipedia)

Site Oficial : http://www.joseluistinoco.com/


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